Adultos têm a chance de aprender a ler e escrever
29/12/2010
Eles são a
verdadeira prova de que nunca é tarde para aprender e muito menos para ensinar.
Alunos e educadores que já passaram da “casa” dos 30 dão exemplo de superação,
determinação e sabedoria. Dados do Movimento de Alfabetização de Jovens e
Adultos (Mova) no Pará mostram que, desde o ano de 2007, cerca de 150 mil
pessoas que já passaram pelo programa, entre jovens, adultos e idosos que não
possuíam o domínio da leitura e da escrita, e hoje já sabem ler, escrever e até
ensinar o próximo.
Mesmo com
esses números, as informações divulgadas pelo Ministério da Educação mostram
que no Brasil, ainda existem cerca de 15 milhões de pessoas em situação de
analfabetismo absoluto, ou seja, não sabem sequer escrever o nome. Outros 31,7
milhões são analfabetos funcionais - pessoas capazes de escrever e ler, mas com
dificuldade de interpretar o texto. No Pará, analfabetos com 15 anos ou mais,
são aproximadamente 12,8% da população. Na medição dos analfabetos funcionais,
o Estado se destaca negativamente: é o quarto pior índice do Brasil, com 13,8%.
Tentando fugir
dessa realidade, muitas pessoas estão voltando às salas de aula. Foi aos 80
anos que a dona de casa Maria de Nazaré Sales sentou em um banco de escola pela
primeira vez. “Meus pais eram muito pobres e não tinham condição nenhuma de me
colocar em uma escola. Cresci e envelheci sem saber ler nem escrever”. Hoje,
aos 82 anos, ela já está na segunda etapa do Programa Brasil Alfabetizado. Dona
Maria aprendeu a ler, escrever e a fazer contas. “Hoje
me sinto outra pessoa, minha vida mudou completamente”.
Qualquer um pode ser
alfabetizador
A diarista Ana
Oliveira também fazia parte das estatísticas negativas de alfabetização. Ela
lembra que só sabia copiar o próprio nome antes de fazer parte do Mova. “Alguém
tinha que escrever e eu copiava depois, como se
estivesse desenhando. Agora já conheço todas as letras e já escrevi até um
poema”, diz ela, que todas as noites, depois de trabalhar o dia inteiro,
caminha com a filha no colo para ir às aulas, em uma escola no bairro do
Barreiro, em Belém.
A professora
Maria Emília Antunes, uma das educadoras do Mova em Belém, é uma das que vem
ajudando pessoas como Ana. Como todos os educadores do projeto, ela formou sua
turma e se candidatou para se tornar uma alfabetizadora. Para Maria Emília,
lecionar para alunos mais velhos é um trabalho de conquista diária. “Quando
vejo que uma turma consegue se formar, fico realizada porque nós acompanhamos
de perto a luta dessas pessoas contra o analfabetismo”.
DESAFIOS
Entre os
principais problemas enfrentados pelos alunos, ela cita a falta de tempo e a
violência. “Eles nunca têm um horário certo para chegar. Tudo depende do
trabalho, dos filhos ou dos netos. Temos que ser flexíveis com os horários”,
explica. A professora diz ainda que como trabalham
geralmente durante o dia, os alunos só podem estudar durante a noite e por
isso, muitas vezes, passam por situações de violência. “Às vezes eles são
assaltados no caminho da escola, outras vezes eles não comparecem às aulas por
conta do horário”.
ilda Costa, que é outra educadora do movimento, afirma que o principal desafio é o preconceito. “Eles têm preconceito com eles mesmo. Acham que não vão ser capazes de aprender depois de velhos. Mas, com o passar do tempo, descobrem o quanto são competentes”, diz. (Diário do Pará)
Fonte: