Adulto analfabeto que aprende a ler tem aumento de 9,3%
na renda
Para as mulheres, esse impacto no salário chega a 16,6%.
Pesquisa foi conduzida pela Fundação Getulio Vargas em SP
Fernanda Calgaro
Portal G1, 11/04/2009
Quando um adulto analfabeto aprende a ler e a escrever, a sua renda aumenta em 9,3%. E, se for uma mulher, esse retorno no salário é ainda maior: 16,6%. Os dados fazem parte de uma pesquisa recém-concluída do Centro de Microeconomia Aplicada da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas em São Paulo. A diferença entre os ganhos obtidos por um homem e uma mulher pode estar no tipo de trabalho desenvolvido. "Uma possível especulação é que, em geral, os homens analfabetos trabalham em setores manuais, como na construção civil, onde o ganho com a alfabetização não será muito grande. No caso das mulheres, o aumento é maior porque, se ela trabalha como empregada doméstica, a capacidade de leitura será importante e a valorizará", afirma Vladimir Ponczek, coautor do estudo. O trabalho aponta ainda que, quanto mais velho for o indivíduo, mais acentuada fica essa diferença em relação ao gênero. Em geral, o aumento salarial para pessoas de 46 a 60 anos é de 13%, enquanto para as mulheres nessa faixa etária, o retorno financeiro é de 24,3%. "A pesquisa mostra algo muito importante, que é a necessidade de oferta gratuita de cursos de alfabetização pelos órgãos governamentais. O custo per capita é muito baixo. Além de contribuir para uma sociedade mais igualitária, ao alfabetizar essas pessoas, elas passarão a receber melhores salários e serão também melhores consumidores, o que irá reverter em mais impostos para o governo", avalia.
Regiões metropolitanas - O estudo usou como base dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período de janeiro de 2002 a dezembro de 2006. Foram ouvidas 1,6 milhão de pessoas das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e Salvador. Desse total, os pesquisadores da FGV fizeram um recorte e pegaram os dados referentes às pessoas entre 25 e 65 anos de idade com até um ano de escolaridade. "Isso nos deixou cerca de 2.000 pessoas para avaliarmos", explica Ponczek. Segundo ele, os maiores ganhos salariais estavam nos centros urbanos do Sul e do Sudeste, possivelmente porque esses mercados são mais competitivos do que em Recife e Salvador. Atualmente, cerca de 18% da população mundial de indivíduos com mais de 15 anos não sabe ler nem escrever. No Brasil, esse percentual é de 11% entre os adultos, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios de 2005.