90% dos analfabetos estão fora de cursos
A 2 anos do prazo para meta oficial de
erradicar problema, 14 milhões de brasileiros ainda declaram não saber ler nem
um bilhete. Na região metropolitana de São Paulo, a mais rica do país, índice
de jovens e adultos analfabetos caiu só 0,67 ponto percentual em 4 anos
MARTA SALOMON DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Folha de São Paulo, 14/06/2009 - São Paulo SP
Parelheiros, Campo Limpo e Capela do Socorro, bairros da zona sul de São Paulo, concentram um tipo de personagem que as políticas públicas têm dificuldade de alcançar na quinta maior metrópole do planeta: jovens e adultos que não sabem ler nem escrever um bilhete simples. Ao lado da maioria absoluta dos analfabetos brasileiros com 15 anos ou mais, eles estão fora das salas de aulas. Segundo dados colhidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e analisados pelo Ministério da Educação, mais de 90% dos analfabetos absolutos do país não frequentam classes de alfabetização, apesar da crescente oferta de vagas do principal programa federal, o Brasil Alfabetizado. No Estado de São Paulo, apenas 4,5% dos jovens e adultos analfabetos frequentam cursos de alfabetização. No país, o percentual é ainda menor: 3,9%.
"Mais de
90% estão fora das classes. É um problemão", diz
Jorge Teles, diretor de políticas de educação de jovens e adultos do MEC.
Segundo ele, muitos dos que frequentam as aulas do
Brasil Alfabetizado já não eram analfabetos. Além disso, a evasão é muito alta.
Com a falta de continuidade nos estudos, 45% dos que já haviam
frequentado classes de alfabetização voltam a se
declarar analfabetos. As dificuldades no combate ao analfabetismo inviabilizam a mais
recente meta oficial, de erradicar o problema em
Ritmo lento -
Dados processados pelo MEC mostram que a região metropolitana de São Paulo,
maior polo de riqueza do Brasil, avança lentamente. A
proporção de jovens e adultos que não sabem ler caiu 0,67
ponto percentual em quatro anos. De
No Nordeste, onde a União concentra esforços do Brasil Alfabetizado, as taxas de jovens e adultos que não sabem ler nem escrever um bilhete foi de 22,43% para 19,94%. A redução, de 11%, é pequena diante da dimensão do problema. Números oficiais mostram que 582 mil jovens e adultos da região metropolitana de São Paulo são analfabetos absolutos. Isso significa que a capital paulista e seu entorno têm um a cada três analfabetos absolutos que habitam as nove regiões metropolitanas do país. Elas, por sua vez, registram a sétima parte dos pouco mais de 14 milhões de analfabetos no país. O maior número de analfabetos absolutos brasileiros mora na Bahia. Em segundo lugar está o Estado de São Paulo, que detém, sozinho, pouco mais de 10% do total jovens e adultos que mal assinam o nome.
Perfil - "Esse é um problema com o qual a metrópole convive
"sem ver'", diz Salete Camba, diretora do Instituto Paulo Freire, ao
traçar um perfil do analfabetismo local, concentrado entre desempregados ou
trabalhadores informais, moradores de periferias ou favelas da capital. No
Estado, o problema é notável nos municípios cuja economia está atrelada à
cana-de-açúcar. Das 645 cidades paulistas, apenas 20% participam do Brasil
Alfabetizado. O Estado tampouco aderiu ao programa. Há um dado mais grave nesse
perfil, diz Camba, a ser detalhado pelo próximo censo do IBGE a partir de 2011.
Jovens de