33 mil abandonaram o ensino médio; 156 mil estão na série errada
O índice de abandono é o menor dos
últimos seis anos, mas ainda preocupa a Seduc. Distorção idade-série é outro
dado alarmante. Para secretário, currículo escolar precisa ser mais enxuto e menos.
A mãe adoece. E a garota
vê o amor esbarrar numa outra necessidade. Tornar-se sentença de um possível
abandono. “Era só nós duas lá em casa. Se eu fosse pro colégio, não tinha quem
cuidasse dela”. Faltou quase nada para a jovem afastar-se dos estudos. Foi
preciso a escola intervir. “O pessoal (diretor/coordenador) chamou tio,
primo... Pediu pra um ficar um dia, outro ficar outro...”. Não fosse isso, ela
teria reforçado a estatística preocupante dos 33 mil alunos do ensino médio
cearense que abandonaram a sala de aula no ano passado.
Segundo a Secretaria
Estadual da Educação (Seduc), isso representa 9,6% do corpo discente dos cinco
níveis do último período da educação básica, que é formada pelo primeiro,
segundo e terceiro anos regulares, o quarto ano dos ainda existentes cursos
pedagógicos para formar professores e as turmas de Educação de Jovens e Adultos
(EJA). A rede pública do Ceará no ensino médio é composta por 350 mil
estudantes.
Esse índice de abandono
de 9,6% em 2013 é o menor dos últimos seis anos no Ceará. Em 2008, era de
15,7%. Por outro lado, apesar de também ter caído, é alarmante a elevada
quantidade de alunos cursando as séries do ensino médio fora da idade
considerada ideal pelas diretrizes educacionais nacionais para cada nível.
Conforme o Anuário
Brasileiro da Educação Básica 2014, o Ceará teve em 2012 – dado mais atual -
uma taxa líquida de matrícula de 55,3%. Isso significa dizer que os 44,7% dos
demais estudantes estão na chamada distorção idade-série. Não concluem o
primeiro, segundo e terceiro anos aos 15, 16 e 17 anos, respectivamente.
Estimativas feitas pela Seduc ao O POVO apontam pouco mais de 156 mil
estudantes com esse perfil.
Outro indicativo
incômodo do Anuário é o elevado percentual de jovens de 19 anos que não
concluíram o ensino médio no Ceará. Eles não terminaram os estudos por já
estarem em anos errados (distorção idade-série) ou por terem abandonado a
escola. Quarenta e sete por cento dessa faixa etária do Estado estava nessa
situação em 2012. Das nove maiores regiões metropolitanas do País, Fortaleza
tem o quarto maior índice de não conclusão (49,4%).
Titular da Seduc,
Maurício Holanda diz que boa parte do abandono no ensino médio concentra-se nas
turmas noturnas, cujo perfil do alunado difere daquele dos períodos diurnos. À
noite, em geral, estudam os jovens que trabalham pela manhã e à tarde.
Mas ele lista outros
motivos para ainda existirem tantos abandonos e distorções. “A perda de
interesse diante de fracassos (reprovações) acumulados; a pressão pra ganhar
dinheiro e se afirmar como consumidor independente; o clima escolar, de o jovem
chegar na escola e nem sempre encontrar um ambiente de coleguismo; e o
currículo escolar, que poderia ser enxuto, mais consistente e menos
academicista e descontextualizado”.
Na análise do
secretário, o Ceará “vai bem” nos indicadores nacionais. “Quando você analisa a
taxa líquida de 1995, o Ceará tinha 13,2% e o Brasil tinha 23,5%. Em 2012, o
Ceará tinha 55,3% e o Brasil tinha 54,4%. Nós crescemos 42 pontos, enquanto
nacionalmente se cresceu 30. Estamos num ritmo melhor, mesmo sendo um estado
pobre. Mas o ensino médio é o grande gargalo da educação. Você vê as coisas
melhorando no ensino fundamental e um gargalo muito forte no ensino médio,
porque os meninos já têm uma certa decepção. A gente está tentando deixar a
escola mais desejada pelos alunos”.
Além de mudanças no
currículo escolar, ele defende a oferta de uma rotina diferenciada de estudos
para os alunos do período noturno. Ao invés de o ensino médio ter três anos,
passar a quatro, por exemplo. E com menor carga de horas/aula/dia. “É pesado o
cara passar o dia trabalhando e ir para a escola à noite. A gente precisa
compreender as especificidades”, pondera.
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