1,4 milhão
de jovens largam o ensino médio
É o maior índice de
abandono desde 1996, segundo dados do Censo; no ensino fundamental, taxa de
evasão no país é de 8%
Luciana
Constantino da Sucursal de Brasília
Quinze em cada cem jovens matriculados no ensino
médio abandonaram os estudos no Brasil em 2004. Isso significa que 1,402 milhão
de alunos deixaram a escola num universo de 9,169 milhões de matrículas. É o
maior índice de abandono desde 1996. Também é praticamente o dobro do
registrado no ensino fundamental, etapa em que oito a cada cem estudantes
matriculados abandonaram a sala de aula. É o que mostra o último Censo Escolar,
divulgado neste mês pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais), ligado ao Ministério da Educação. Além dos casos de abandono, o
Censo aponta que dez em cada cem estudantes do ensino médio foram reprovados em
2004. São pouco mais de 965 mil jovens. Esse também é o maior índice registrado
desde 1996. Os dados incluem as redes pública e particular, porém essa última
detém só 12% das matrículas e os menores índices de reprovação (5,48%) e
abandono (1,53%).
Atenção - Especialistas ouvidos pela Folha
alertam que o abandono e a reprovação, aliados ao fato de o número de matrículas
no ensino médio ter caído 1,5% entre 2004 e 2005, devem despertar a atenção das
autoridades para detectar os motivos da falta de interesse dos adolescentes
pelas salas de aula. Para o diretor da Faculdade de Educação da UnB
(Universidade de Brasília), Erasto Fortes, o ensino médio é a etapa com uma
"identidade difícil de ser caracterizada". "Alguns dizem que é a
etapa preparatória para o vestibular. Outros falam em ajudar para o mercado do
trabalho. Mas o ensino médio faz parte da formação integral do jovem dentro da
educação básica. E para isso o currículo ainda não está adaptado", afirma
Fortes.
Ele cita ainda outros três fatores que devem ser
analisados -a tendência de migração dos alunos do ensino médio regular para a
Educação de Jovens e Adultos (antigo supletivo, que é concluído em prazo
menor), a necessidade de políticas de apoio ao estudante, como merenda e
transporte, e a falta de professores de algumas disciplinas, principalmente nas
áreas de ciências. "A falta de condições do ensino médio causa um
desestímulo aos alunos", concorda a coordenadora de programas da ONG Ação
Educativa, Vera Masagão. "Na primeira oportunidade, eles vão para o
mercado de trabalho. O ensino médio cresceu muito rápido, sem um aumento
significativo de recursos", diz. A presidente da CNTE (Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação), Juçara Dutra Vieira, também cita a
"falta de perspectiva" oferecida pelo ensino médio aos jovens.
"Em termos de inclusão e de mercado de trabalho, o ensino médio não tem
dado muitas respostas", afirma.
Dados do IBGE - Essa percepção pode ser
traduzida em números. O Brasil tinha em 2004, segundo o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), 34,8 milhões de jovens entre 15 e 24
anos. Representavam 19,1% da população total. Por outro lado, a PME (Pesquisa
Mensal de Emprego), realizada em seis regiões metropolitanas em dezembro do ano
passado, indicava que 23% dos brasileiros entre 16 e 24 anos não estudavam nem
trabalhavam. O presidente da Ubes (União Brasileira dos Estudantes
Secundaristas), Thiago Franco, dá pistas do que o jovem busca: "A escola
não é um ambiente agradável. É preciso trazer para o currículo coisas ligadas
ao cotidiano, discutir como a sociedade está. E o ambiente também deve ser mais
democrático dentro da escola, com grêmio estudantil, clima de
participação". Colaborou FÁBIO TAKAHASHI, da Reportagem Local