1% dos alunos buscam curso tecnológico
Em países desenvolvidos, cerca de 29% dos estudantes de ensino superior
se formam em cursos técnicos de curta duração. Modelo
brasileiro, voltado para cursos tradicionais, é ruim para crescimento do
país, diz pesquisador; tese é polêmica entre educadores
FÁBIO TAKAHASHI DA REPORTAGEM LOCAL
Folha de São Paulo, 03/12/2007 - São Paulo SP
Menos de 1%
dos estudantes brasileiros se formaram em cursos superiores de curta duração,
mais voltados para o mercado de trabalho, nos últimos dez anos. Nos países
desenvolvidos, o índice é de 29%. A constatação será apresentada amanhã pelo
pesquisador Renato Pedrosa, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), em
um seminário que debaterá acesso e financiamento do ensino superior. A
comparação utilizou dados do Censo da Educação Superior brasileiro e da OCDE
(organização que reúne os países desenvolvidos). Pedrosa considerou os
estudantes formados nos últimos dez anos. Segundo o pesquisador, o atual modelo
brasileiro, focado nos cursos tradicionais de graduação, traz prejuízos ao
desenvolvimento do país. "Estamos formando chefes e temos mão-de-obra de
base. Falta à parte do meio da cadeia", afirma Pedrosa. "Em uma
empresa automotiva, por exemplo, precisa-se de um volume muito maior de
técnicos do que de engenheiros. E não estamos formando técnicos." Os
cursos de curta duração, também conhecidos como tecnológicos, duram de dois a
três anos e focam numa área do conhecimento. Já as graduações convencionais,
que procuram dar uma formação mais ampla ao aluno, duram pelo menos quatro
anos. Exemplo: na área que pode ser entendida como engenharia, existe o curso tecnológico de obras hidráulicas.
Enquanto o primeiro tem uma duração de cinco anos, o segundo fica entre dois e
três. Para sustentar a avaliação de que é necessário criar maciçamente vagas em
cursos tecnológicos, Pedrosa lembra um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) divulgado no mês passado.
No trabalho, o
instituto afirma que a indústria nacional não encontrou trabalhador qualificado
para uma em cada quatro vagas abertas neste ano, principalmente entre pessoas
com até 13,1 anos de estudo. É nesse perfil que se encaixam
aqueles que cursam o ensino superior de curta duração (11 anos de
educação básica e mais dois ou três de superior). Outra vantagem dos cursos
tecnológicos, segundo Pedrosa, é o custo por aluno, que chega a ser oito vezes
menor do que em universidades tradicionais como a Unicamp ou a USP. Conta para
isso, além da duração dos cursos, o fato de as instituições convencionais se
dedicarem também à realização de pesquisas e à prestação de serviços, como
hospitais universitários. Segundo o último Censo da Educação Superior, com
dados de 2005, os centros tecnológicos e as faculdades de tecnologia possuíam
apenas 83,2 mil dos 4,4 milhões de matrículas nas graduações presenciais no
país (1,9% do total). Críticas - Professor da Faculdade de
Educação da USP, Cesar Minto é contrário ao modelo de curta duração. "Sem formação
geral, com forte teor humanístico, você não cria cidadãos críticos. Forma
apenas pessoas para seguirem ordens." Minto afirma ainda que, "nos
países ricos, as pessoas formadas em cursos tecnológicos têm salários razoáveis,
o que pode não ocorrer aqui".
Presidente do
Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), Simon Schwartzman diz que
"uma das limitações fortes de qualquer sistema de educação profissional,
seja público ou privado, é o baixo prestígio junto à população", o que
pode ter má repercussão no mercado de trabalho. Para o membro do Conselho
Estadual da Educação e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista),
João Cardoso Palma Filho, o ensino superior precisa expandir tanto pelos cursos
tradicionais quanto pelos de curta duração. "Hoje, por exemplo, faltam
engenheiros civis, um curso tradicional. Mas os tecnológicos também são
importantes. Um dos fatores é que, com os mesmos recursos, consegue-se incluir
muito mais alunos nesse modelo, que é mais barato." O seminário onde será
apresentada a pesquisa de Pedrosa ocorrerá hoje e amanhã, na sede da Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), na zona oeste de São
Paulo. A iniciativa é da Presidência da Assembléia Legislativa, que pretende
colher informações para possíveis novas leis sobre o assunto.